sexta-feira, março 30, 2007

Salazar, esse grande português

Muito se discute por estes dias a eleição de António de Oliveira Salazar como o Grande Português.
Avaliados os aspectos positivos e os negativos, o ditador e estadista português venceu personagens históricas como D. Afonso Henriques, Camões ou o Infante D. Henrique.
Na verdade eu até compreendo.
O homem é um visionário!
Como era possível que o fundador da nacionalidade ou o pai dos Descobrimentos vencerem o homem que antecedeu o Viagra, conseguindo manter a ditadura durante 36 anos. E há gente que não consegue ter quanto mais manter mantém a sua dita dura e tem de recorrer ao Viagra.



Segundo a página da RTP, Salazar "Dirigiu, de forma ditatorial, os destinos do País durante quatro décadas. Foi ministro das Finanças, presidente do Conselho de Ministros, fundador e chefe do partido União Nacional. Afastou todos os que tentaram destituí-lo do cargo. Instituiu a censura e a polícia política. Criou dois movimentos paramilitares: a Legião e a Mocidade Portuguesas. Mas equilibrou as finanças públicas, criou as condições para o desenvolvimento económico, mesmo que controlado, e conseguiu que Portugal não fosse envolvido na II Guerra Mundial. Manteve a separação entre o Estado e a Igreja. Figura controversa, marcou sem dúvida a história do País.

“Sei muito bem o que quero e para onde vou”, disse António de Oliveira de Salazar na tomada de posse da pasta das Finanças, em 1928. E durante quase 40 anos assim foi. “Em rigor, foi o primeiro-ministro de um rei absolutista”, diz Marcelo Rebelo de Sousa. “Primeiro-ministro, a que uns chamarão déspota esclarecido e outros iluminado. Governou em nome do povo, substituindo-se a ele e invocando a Nação.”

Salazar nasceu no dia 28 de Abril de 1889. Para os pais, um casal de agricultores de Santa Comba Dão, era a resposta às suas preces. Maria do Resgate, de 44 anos, dera à luz quatro filhas e já quase perdera as esperanças de deixar no mundo um filho varão. Tratado quase como um milagre, teve direito a aulas particulares até à entrada no seminário diocesano de Viseu, em 1900. A sua inteligência e vontade de aprender deram frutos: obteve a equivalência do liceu com 19 valores e decidiu-se pelo curso de Direito, em Coimbra. Na cidade dos estudantes fez uma das suas poucas amizades, que manteve ao longo da vida - o padre Manuel Cerejeira, futuro cardeal. “São duas pessoas muito curiosas do seu tempo”, lembra a historiadora Irene Pimentel. “Salazar e Cerejeira foram marcados pelo catolicismo e pela política católica, a chamada democracia cristã.”

Durante este período, Salazar liga-se à ala católica, anti-republicana. Faz parte do Centro Académico da Democracia Cristã e escreve artigos de opinião em jornais ligados à Igreja. É, assim, com naturalidade, que concorre por Guimarães como deputado ao Parlamento. Demora-se no cargo apenas três dias. Desiste e regressa a Coimbra.

Salazar regressa à sede do poder em 1926. A crise económica, entretanto instalada, e a instabilidade política da I República tinham levado ao golpe militar de 28 de Maio. Professor de Coimbra, muito considerado, recebe a pasta das Finanças. Desta vez, demora-se mais tempo no cargo: 13 dias. Por não ver satisfeitas as condições que impusera como indispensáveis, demite-se. Sabe que, mais cedo ou mais tarde, precisarão dele.

Menos de dois anos depois, o convite é repetido. Exige em contrapartida o controlo sobre as despesas e receitas de todos os ministérios. Entre 1928 e 1929 consegue um superavit nas finanças públicas. Aquele que se afirmava como um não-político, iniciava uma carreira meteórica. “Salazar tinha aquela concepção de que há uma elite política, que é a do regime, que está toda reunida num partido único, a União Nacional, e Salazar, que é um ditador. Depois, há todas as outras pessoas, que deviam deixar-se governar. Evidentemente, é a tal história: manda quem pode, obedece quem deve. E, para isso, não se faz política”, diz Irene Pimentel.

Em 1930, como alternativa à ditadura militar, imposta em 1926, e às sucessivas revoltas da oposição democrática, Salazar funda o partido União Nacional. Prepara-se para tomar o poder. Este seria o denominador comum de todos quantos quisessem servir a pátria. “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”, dizia.

Político exímio, o ministro das Finanças da ditadura militar consegue afastar os sucessivos presidentes do conselho de ministros militares nomeados. Acaba por assumir o governo do País em Abril de 1932.

No ano seguinte, faz ratificar uma nova Constituição, apesar de uma abstenção de 40% (considerados votos a favor). O seu poder pessoal passa a assentar em bases sólidas. Cria a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), mais tarde Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), uma polícia política. Proíbe as oposições e impõe, com o partido único, um regime totalitário. Chama a si o despacho directo dos pelouros sensíveis, onde se inclui a propaganda e a censura. “Só para dar alguns exemplos, não havia suicídios em Portugal, porque a censura censurava os suicídios. Não havia conflitos sociais, porque a censura censurava os conflitos. Enfim, ele tentou criar a imagem de uma sociedade perfeita”, continua Irene Pimentel.

A vontade de mudança surge com o fim da II Guerra Mundial, em 1945 e 1949, com a criação do Movimento de Unidade Democrática (MUD), mas sobretudo em 1958, nas eleições presidenciais. O general Humberto Delgado - que fora seu activo colaborador - congrega à sua volta a oposição e provoca uma onda anti-salazarista. O chefe do Conselho de Ministros defende-se, reforçando a acção repressiva. Altera a Constituição e torna a eleição presidencial dependente de um colégio eleitoral da confiança do regime.

Com a perda da Índia Portuguesa, em 1962, e o início da guerra em África, no ano anterior, Salazar já não tem a mesma confiança no povo português. Em conversa com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Franco Nogueira, desculpa-se: “Se em lugar de governarmos este país, governássemos outro, conseguia-se mais. Neste, a gente puxa mas, como não dá, temos a tendência para nos nivelarmos à massa.”

“O essencial do seu pensamento é este”, explica Marcelo Rebelo de Sousa: “A ideia do equilíbrio económico-financeiro e da autoridade que deve controlar a liberdade. A ideia de um Portugal projectado no mundo através de um império, e não integrado na Europa. A ideia de um país que vivesse de forma comedida, sem excessos de riqueza, luxo ou ambição. Portanto, governou Portugal à sua medida.”

Em 1968 a guerra em África matava os mesmos homens - e os seus filhos - que Salazar dizia ter salvado do conflito da II Guerra Mundial. A opinião pública já não o favorecia. Mas permaneceu no cargo. Até cair de uma cadeira. O que parecia não ter deixado mazelas transformou-se num hematoma craniano. Operado com urgência, volta a sofrer um acidente cardiovascular. É declarado incapaz e acaba exonerado do cargo. No entanto, morre sem o saber. Corria o ano de 1970. “Não conheço nenhum outro caso de uma ditadura e de um ditador em torno do qual, depois de ter saído formalmente do poder, se tenha construído uma ficção como a que se construiu em torno do Dr. Salazar. Construiu-se a ficção de que ele continuava a ser o primeiro-ministro”, lembra João Soares.

Com a sua morte, morre um regime que viveu da sua imagem. Mais de 40 anos passados, a polémica ainda está instalada: foi o salvador da pátria ou um ditador? “Como os fenómenos culturais são lentos a mudar, há uma certa inércia que fica na cabeça das pessoas. Essa inércia diz o seguinte: foi um tempo em que não havia democracia, nem liberdade, mas havia estabilidade, autoridade e um viver modestamente, mas em equilíbrio económico e financeiro”, explica Marcelo Rebelo de Sousa. “E essa ideia que ficou tem o seu lastro que, de quando em vez, vem ao de cima, porque 40 anos são muito na história de um povo.”"


Por acaso foi profundo.
Com esta votação acabamos por entender que, afinal, não são apenas os velhinhos saudosistas que dizem "o que fazia falta era o Salazar".
Eu não serei a pessoa mais certa para fazer esse tipo de julgamento, sempre vivi em tempos de liberdade, mas do que sei e do que aprendi sobre o Estado Novo e sobre os outros candidatos, não consigo conceber a ideia de Salazar como o vencedor da votação.
Afonso Henriques é para mim um herói, tal como também o tinha sido Viriato, este ainda não sendo português foi um dos primeiros responsáveis pelo aparecimento da pátria lusitana. O Infante D. Henrique é outro herói. Foi ele que planeou uma das maiores histórias da História mundial. Graças a ele e ao esforço de uma nação inteira que o seguiu Portugal foi, em tempos, um império e um dos mais poderosos do mundo.
É claro que ao pé disto, Salazar, ao conseguir que Portugal não tivesse de entrar num conflito de escala mundial, nem se compara! É muito superior! (olha a ironia e o sarcasmo...tão lindos...)
Ao ter em Salazar um vencedor, aqueles que sempre foram vistos como heróis - homens como Salgueiro Maia, Álvaro Cunhal, Manuel Alegre, Otelo Saraiva de Carvalho, Zeca Afonso e muitos mais figuras conhecidas e desconhecidas, de entre eles todos os estudantes que se opuseram ao regime fascista e foram por isso torturados - são agora o quê? Um bando de rebeldes que tentaram opôr-se àquele que era, no fundo, o Grande Português?
Neste país é tudo assim...mas eu gosto disto aqui...

FOI PROFUNDO!

2 comentários:

Cusco disse...

"O episódio da 'vitória' de Salazar no concurso da RTP confronta a esquerda com a sua histórica dificuldade em pensar o salarazismo"
Jorge Almeida Fernandes, PÚBLICO, 30-03-2007

curti a frase..

Anónimo disse...

otelo saraiva de carvalho, o maior terrorista portugues, um heroi!!!!!!!?

Dispenso...

Porque tudo o que é dito é dispensável...
Porque tudo o que é escrito é dispensável...

Este é um blog onde se fala a sério e se brinca.
Quem não goste de ironia ou sarcasmo que feche esta página rapidamente!
Aqui ninguém tem razão.
Eu não pretendo estar certo, pretendo observar e pretendo fazê-lo de uma forma atenta e crítica...de uma forma dispensável.

Dispenso...um blog dispensável.

pessoas já dispensaram um tempinho para dar uma espreitadela