Saudades da "Geração Rasca"

Bem sei que isto vai parecer discurso de "cota" e conversa saudosista mas tenho duas frases para partilhar:
a) no meu tempo não era assim;
b) ai que saudades da "Geração X"!

É verdade, quando eu era adolescente, as gerações anteriores rotularam os jovens de "Geração Rasca".
Éramos uns rebeldes!
Ainda me lembro de termos saído da escola e nos sentarmos no meio da Estrada Nacional 1 em protesto a pedir a libertação de Xanana Gusmão. Uns tempos mais tarde, alunos do ensino superior e do secundário juntavam-se (sim, naquele tempo éramos uns doidos e tínhamos iniciativas em conjunto) em manifestações e caíam ministros...
Realmente era uma malta bem rasca, bem "X".
Que meliantes! Que malcriados!

Hoje em dia fala-se em violência nas escolas e em alunos que batem em professores.
Os putos têm outra preparação!
Antes ainda estavamos a levar com filmes do Rambo e todos os do Arnold e do Jean-Claude, hoje os miúdos já viram e reviram cada película ao detalhe, aprenderam todos os movimentos e dominam as técnicas que passam a usar uns nos outros e no corpo docente.

No meu tempo (sinto-me velho a escrever este tipo de expressões), íamos para a rua se fossemos apanhados a passar bilhetinhos nas aulas, hoje trocam-se mensagens nas aulas; chamavam-nos de arruaceiros por falar com o colega do lado, hoje berra-se com professores e ainda os mandam para lugares pouco recomendáveis.

Antes, quem mandava era o professor e nós tínhamos medo de ir para a rua. E mais, também tínhamos medo do que nos acontecia se chegássemos a casa com um papelinho a informar os papás da nossa expulsão da sala de aula.

E hoje?
Hoje os alunos são intocáveis.
O aluno pode ser um potencial assassino desde o berço e matar gatos e esventrar peluches desde a alcofa, mas se chegar ao fim do primeiro período sem aproveitamento e com sintomas de mau comportamento quem é o culpado? É o professor que levou com ele há poucos meses! E ainda tem de escrever um relatório para explicar o porquê de não ter conseguido retirar o melhor rendimento do petiz.

Então e o que aconteceu na escolinha no Norte?
A professora retirou o telemóvel à aluna e esta não gostou. Levantou-se e reclamou justiça. E, sendo maior que a docente, nem precisou crescer para ela.
Havia de ser jeitoso! Ainda me lembro de uma professora péssima que tive (curiosamente também era professora de Francês) e que embirrava comigo...e era um terço de mim! Se eu tenho resolvido levantar-me e discutir com ela sempre que achava que ela estava sem razão ia ser o bom e o bonito!

O Governo e o seu Estatuto do Aluno dão uma protecção desmedida ao aluno e tiram constantemente o tapete ao professor mas são apenas uma pequena parte do problema.
Os grandes responsáveis são os pais.
Actualmente a garotada faz coisas inacreditáveis! Eu era um rebelde mas ao pé da miudagem de hoje em dia sinto-me um menino de coro!

A ministra da Educação diz que não é por existir um código da estrada que deixam de haver acidentes, mas isso não faz com que algumas leis que regulam o trânsito estejam acertadas e bem articuladas com a realidade.
Mas pior esteve o Procurador-geral da República. Pinto Monteiro falou em pequenos gangs nas escolas que originam gangs fora delas. Pronto, agora a miúda que andou aos puxões com a professora deve fazer parte de um gang!
É que eu já acho absurdo falar-se em agressão!
A menininha é simplesmente mal educada! E os colegas são simplesmente parvinhos e tiveram um comportamento digno da sua idade! O comportamento dos colegas foi estúpido e desapropriado...COMO É NORMAL NA IDADE DELES! A rapariguita é que não tem noção do que deve ser o seu comportamento numa sala de aula. Mas agressão?

Rasca mesmo é esta gente que pega num caso da treta e o empola!
Tanta coisa preocupante nas escolas (como o Estatuto do Aluno e a real violência escolar) e pegam nestas tretas?
Para quê? Para a senhora ministra se poder defender? Ou para o procurador vir tentar relacionar uma tolice de falta de educação com gangs?

FOI PROFUNDO!

p.s. Geração Rasca : Expressão usada por Vicente Jorge Silva num editorial do jornal Público em 1994 referindo-se a uma geração de jovens portugueses que frequentava a universidade e manifestava a sua discordância pelas políticas educativas, em particular pelo aumento significativo das propinas universitárias. (Fonte: Wikipedia)

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