quinta-feira, outubro 13, 2005

Um mundo do avesso

O Brasil, nomeadamente Salvador, é o espelho da realidade portuguesa. Não é pelas suas semelhanças, pois, se prestarmos atenção, quando nos olhamos ao espelho fica tudo invertido, a nossa direita fica à nossa esquerda…em relação a Portugal e ao Brasil, diria que o que é direito passa a torto.
Está tudo ao contrário, um reflexo, uma inversão do que os europeus, em geral, e os portugueses, em particular, estão habituados.
Tomemos, por exemplo, o mercado negro, também designado por candonga. No Brasil, de negro só tem o tom de pele dos vendedores (e não se vislumbre nesta frase qualquer pontinha de racismo, a população soteropolitana é maioritariamente muito bronzeada…de nascença eheheheh).
À entrada de qualquer espectáculo pago ou mesmo de discotecas ou festas, é ver homenzinhos e rapazinhos (esta é uma profissão onde praticamente não se vêem mulheres) à entrada a vender os “ingressos”, lado a lado com a polícia, de uma forma bem natural, qual médico e enfermeiro no hospital. O mesmo se passa com os coreanos que vendem calçado desportivo de contrabando na rua, de manhã à noite, coladinhos ao local onde os agentes da polícia civil costumam estar de vigia. Pelas longas conversas que os vi manter, com muitos sorrisos rasgados à mistura, presumo que não tenha havido nenhuma repreensão ou aviso.
As prostitutas abundam por Salvador. Têm ligações com hotéis, bares e taxistas e nunca vi nenhuma ser incomodada pela polícia. Um português que esteve de visita teve uma conhecida casa de dança (samba e pagode, nada de “danças exóticas”) recomendada pela recepção do hotel onde estava hospedado…só por acaso, essa casa está sempre povoada de prostitutas e italianos. E sei do que falo, já lá estive.
Eu próprio, numa noite ao regressar a casa, tive um taxista a dizer-me que podia passar para “pegar umas meninas”.
Nos bares é normal, elas são bem vindas, atraem gringos ricos, dão-lhes de beber e eles ainda lhes pagam uns copos, acaba por ser bem lucrativo para o bar. E não convém afastar a clientela, não é?
Aqui qualquer desdentado ou qualquer senhora a cheirar a esgoto é arrumador(a) e o que é grande nesta profissão é que em Salvador – não sei como é no resto do país – este pessoal é, imagine-se, SINDICALIZADO! Não preciso dizer mais nada, preciso?
Agora a parte mais divertida, a política. Quando saí de Salvador, o assunto principal era o Mensalão. Basicamente, foram uns trocos (um pouco chorudos) que foram dados às pessoas certas para favorecer as pessoas erradas.
Mas isso há em todo o lado, o que tem isso de tão especial em Terras de Vera Cruz?
Aqui no nosso jardim à beira mar plantado, questionou-se quando, salvo erro, João Soares e Santana Lopes, entre outros, fizeram sair brochuras, placares e outras propagandas quando estavam à frente dos cargos para os quais foram eleitos, onde enalteciam a “obra feita”.
Naquela que foi a primeira capital do Brasil isso é perfeitamente normal e até irrita! Aliás, o que dá mesmo a volta ao estômago é o “Clube dos Janotas” que andam a mostrar as obras bonitas feitas num lugarzinho qualquer da cidade que ficou todo lindinho e, depois, qualquer um pode ver estradas onde se abrem buracos no meio do asfalto em pleno dia e ficam carros lá enfiados, as ruas estão porcas, sujas, nauseabundas, com um aspecto que vai do nojento ao imundo, crianças a dormir na rua, a pedir, a fumar, a insultar, a fazer malabarismos em troca de umas moedinhas, em suma, um cenário miserável.
Um aspecto que dá para morrer a rir é visível quando se viaja de Salvador para a Praia do Forte. Há pelo menos um placar imenso onde se pode ler “Esta é mais uma obra do Governo do Estado da Baia”. Essa obra feita é uma estrada relativamente bem asfaltada, alguns quilómetros de alcatrão bem cilindrado. Logo depois: BEM VINDOS AO INFERNO! Sim, o inferno de qualquer condutor, carro e respectivos amortecedores. Ali a estrada não tem buracos, os buracos é que têm lá algures pelo meio, perdida, escondida, uma estrada, ou que resta dela. E digo mais, se não fossem as bermas, mínimas, diga-se em boa verdade, eu diria que aquilo era um caminho de cabras onde até os pobres ovinos se recusariam a transitar.
Por último, a propaganda eleitoral.
As favelas e tudo é muro e parede que não seja de vivenda, condomínio ou monumento, são pincelados com litros e litros de tintas e o resultado final é o tradicional e universal “vota fulano” ou “vota cicrano”, seguido do seu número – número esse cuja finalidade ainda hoje continuo sem saber ou compreender.
Segundo ouvi um baiano dizer, a tinta usada em cada acto eleitoral daria para pintar e dar um aspecto menos terrível e menos pobre a todas as favelas de Salvador.
O que eu acho é que os candidatos querem mesmo é tentar ganhar as eleições para depois dar mais e melhores condições ao eleitorado "menos favorecido".

FOI PROFUNDO!

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