É por causa de situações como a que se segue que eu acho que falta fazer uma reforma na comunicação social (em geral) e no jornalismo (em particular).
Não é à toa que existe uma diferença entre ter uma licenciatura e não a ter.
Tudo bem que a maior parte das pessoas que dirigem as redacções, mesmo que não tenham um canudo, têm uma larga experiência... o que, nestes casos, acaba por não querer dizer nada.
Veja-se:
Muito lindo e com muita piada, não?
Quaresma leu a sina.
Quem lê a sina?
Os ciganos.
O Quaresma fez algo típico dos ciganos.
Ui...Estereótipos!
Sabem o que são?
Aquelas coisas com as quais devemos ter cuidado enquanto jornalistas...
Daqui a nada vão começar com títulos tipo
"Adu roubou-lhes a vitória"
Pois...é preto, logo é ladrão!
Ou melhor!
"Hussein rebentou com adversário bracarense"
Sim, porque ele é árabe e os árabes têm todos a mania de se fazerem explodir!
Em suma, na faculdade alertam-nos para o perigo de usar certas expressões discriminatórias (mesmo que a pessoa em causa tenha muito orgulho nas suas características particulares), algo que vemos de quando em vez ser usado nos noticiários (por exemplo) ou nos jornais: "o indivíduo de etnia cigana" "o alegado raptor é um emigrante de leste"...são expressões que não se devem usar. No máximo dos máximos descreve-se fisicamente, se for necessário alertar a população caso seja alguém a fugir das autoridades.
Agora esta do Quaresma foi a pura demonstração do que não se deve fazer.
Eu continuo a achar que devia haver uma reforma do jornalismo em Portugal, algo com pés e cabeça. Custa muito blindar a profissão? Ou será que ser jornalista é assim tão diferente de ser arquitecto? "Sabes desenhar? Toma lá um lápis e faz uma casa." É mais ou menos esta a grande barreira que tem de ser atravessada para se ser jornalista hoje em dia.
Que sentido faz ter licenciaturas a preparar e qualificar as pessoas se depois não existe o pré-requisito da licenciatura (em jornalismo) para se ser jornalista?
Porque não promover uma mudança e já? Porque não impôr algo do género "muito bem meus meninos, a partir deste ano só é jornalista quem tem o curso. Quem já está "dentro do circo" que fique, mas que se crie um "ano zero" a partir do qual se crie uma blindagem da profissão.
Digo eu...que sou licenciado em jornalismo e, como tal, suspeito.
FOI PROFUNDO!
4 comentários:
Foi muito profundo!! Aliás, é muito triste ouvir gajos na rádio com a mania que são jornalistas e que, no meio da reportagem, opinam sobre o que está a acontecer. Isto acontece na Antena 1 Açores. Vão buscar gajos com o 9º ano para a informação, quando sabem que existem pessoas qualificadas na ilha que podiam fazer MUITO mehor! Mas lá está.. é preciso dar emprego ao irmão ou ao cunhado! Podem não perceber nada de jornalismo, mas são da família e tal!
Tenho acompanhado o teu blog e até ao momento não senti necessidade de comentar nenhum dos teus post. Todavia, este mexeu comigo pois aborda um assunto que me causa algum burburinho cerebral: O preconceito nos meios de comunicação social. A minha opinião carece, obviamente, de parcialidade já que estou do lado de cá, na minoria.
A capa do jornal também me inquietou, (eu não vi um erro "jornalístico" eu vi racismo) e mais agitada fiquei quando li na última página o artigo do Ricardo Araújo Pereira (a quem acho muita piada). Penso que este tipo de noticias só legitima o preconceito e pode induzir a comportamentos xenófobos.
De um lado temos um ” jornalista” a tentar fazer humor e do outro um “humorista” a tentar fazer jornalismo. No entanto, e no contexto, pareceu-me que a responsabilidade do primeiro (tu confirmaste) era mais grave, já que estamos a falar de um jornalista, alguém supostamente habilitado e com competências adquiridas, que lhe permitem evitar este tipo de discurso discriminatório.
Fico desagradavelmente surpresa em saber que não é obrigatória a licenciatura em jornalismo para se exercer a profissão. Então que formação têm? Experiência? Experiência sem formação soa-me a condicionamento de Pavlov.
Já há muito que me questionava até que ponto era licito ou ético os meios de comunicação divulgarem a raça (religião, orientação sexual, etc.), quando esse aspecto não é relevante para a notícia. Disseste que: “descreve-se fisicamente, se for necessário alertar a população caso seja alguém a fugir das autoridades.” E eu digo, ainda assim com muita reserva. A raça, é um caracter de identificação vago, teria de vir associada a mais aspectos, por exemplo:
Indivíduos de raça negra assaltam pastelaria em Coimbra.
Pelas 8 da manhã de ontem, dois indivíduos de raça negra assaltaram uma movimentada pastelaria da baixa de Coimbra. O prejuízo é avultado já que foi levado, pelos assaltantes, todo o stock de pastéis de natas e queques acabados de confeccionar (…) Os assaltantes, segundo descrição de testemunhas, trajavam blusões tipo militar. O mais velho é obeso e não tem a mão esquerda, o mais novo é estrábico e apresenta pé boto (mal formação congénita). São ambos anões.
Continua a escrever
De facto, muito do jornalismo desportivo é assim: tendencialmente popularucha, vagamente sensacionalista. Mas vendo bem as coisas, há casos piores: esta semana, houve a argolada do Público em relação à Venezuela (falei disso no meu blog, podes lá ir ver), e o 24 Horas, Santo Deus...
No fim e ao cabo, ainda iremos sofrer durante muito tempo aquela "falta de cultura" que os mais velhos têm. Mas temos casos mais graves, como as noticias falsas que aparecem a um ritmo alucinante... vide o caso Maddie!
Concordo contigo.
O jornalismo é um profissão que goza de um poder imenso no que diz respeito à manipulação do público.
Oferecer esse poder a profissionais incompetentes, sem formação académica ou sem o conhecimento básico de regras éticas e deontológicas, é um perigo.
Por isso eu apoio-te nessa ideia da criação do ano zero para quem já está no "circo" e o requisito mínimo da licenciatura em Jornalismo ou Comunicação Social, ou qualquer curso do ramo, para quem quer aceder à carteira profissional.
Não duvido que existam óptimos jornalistas sem um curso superior, mas neste caso temos que jogar pelo seguro e ajudar quem pagou e se sacrificou para ter uma formação séria em Jornalismo.
Sobre a questão racial, no meu entender tanto podia ser preto, como amarelo, como branco. O problema é que o aspecto racial é um tema que continua a ser tratado de um modo muito formal. A raça tem que ser um elemento de descrição tão natural como a altura. A "eufemisação" da raça ou etnia, como é a substituição de "preto" por "de cor" é uma barreira que nos impede de aceitar e aglutinar as diferenças.
Eu sou pela raça Humana.
Belo blog!
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