terça-feira, outubro 25, 2011

Questões sobre um país à deriva

Dois pontos prévios antes de começar:
1. A grande vantagem do país andar à deriva é ainda não ter afundado.
2. Enquanto ateu, não acredito em intervenções divinas, acredito nas capacidades humanas, por isso isso mesmo tenho pouca fé nos atuais governantes, indivíduos que não mostram ter o que é necessário para levar o país a bom porto.

Olhando para Portugal, ainda que à distância de um oceano, dou por mim a pensar se chegámos a um ponto em que não há ninguém capaz de governar o país e o meter na ordem.
Não digo, ao contrário de muitos, que seja preciso outro Salazar, também não acho que seja preciso fazer um intervalo na democracia, tudo isso revela pouca inteligência.
Aliás, Portugal tornou-se um país com muitos espertos, ao invés de vários inteligentes.

Não terei sido o único a receber emails com salários absurdos de deputados e gestores ou de antigos políticos, comparando quanto auferiam antes e depois dos cargos desempenhados "em prol da nação".
Não é algo que me surpreenda, embora confesse que o nível de pornografia dos salários tenha excedido o que eu pensava. O soft-core da minha imaginação é, na verdade, um hard-core bem próximo da categoria snuff.

É claro que cada um deve ganhar de acordo com as suas qualificações e de acordo com as suas responsabilidades, mas depois existem vários truques "mágicos" para meter mais algum dinheiro ao bolso. Prémios de desempenho, cartões de crédito da empresa, combustível, telemóvel...
Eu pegaria apenas na questão dos prémios de desempenho e de produtividade. Qual é mesmo a justificação para pagar milhões a estes artistas quando a economia nacional está em tal estado que se fala em...crise?
Como é que se justifica que as empresas tenham níveis de endividamento gigantescos e depois se dêem prémios de milhões aos seus gestores? Ninguém pensa em equilibrar as contas das empresas, pensam em meter dinheiro ao bolso e, como são os administradores a decidir os prémios da administração, não espanta que se preocupem com os seus respetivos umbigos.
Com o país passa-se o mesmo.
Quem está no poder preocupa-se em governar-se e tratar dos seus. Por isso mesmo acho hipócrita quando PS, PSD e CDS trocam acusações falando dos boys, quando todos fazem o mesmo. E, atenção, eu compreendo que se coloquem pessoas de confiança em lugares que devem ser de confiança política. É claro que isso faz pressupôr que, estando uma pessoa no cargo que não é do partido, vá fazer algo para prejudicar quem está no poleiro. É uma boa lógica que mostra que quem está na política sabe que o jogo sujo e a importância de estar no poder é superior ao bom desempenho do cargo que se está a ocupar.

Outra questão que não me sai do pensamento tem a ver com a gestão do país, nomeadamente quando olhamos para os impostos.
Eu não tenho formação em economia, mas era capaz de apostar que se taxassem as grandes fortunas, não se perderia grande coisa.
Vejamos: quantos salários de 1000€ correspondem a um qualquer grande empresário português? O que eu quero dizer é: se em vez de se taxarem uns milhares de trabalhadores que já não recebem grande coisa, podia taxar-se um ou outro grande empresário. Não só o retorno seria o mesmo, como o número de portugueses afetados seria bem menor.

E não só.
Julgo que não é preciso ter grande formação em economia para saber que, se as grandes fortunas fossem taxadas de forma visível, o montante em causa iria servir para alavancar a economia nacional de forma mais célere, permitindo que os mesmos que fossem taxados pudessem voltar rapidamente a usufruir das vantagens de uma economia recuperada. E isto sem ter que ir ao bolso de quem nada ou pouco tem.
As medidas implementadas pelo atual governo são vampíricas. Só falta sugar o sangue da classe média e da classe trabalhadora. Quanto menos se tem, mais se lhes cobra. É pouco inteligente, especialmente num período em que é necessário mobilizar o país para ser produtivo.
Se, por exemplo, o senhor Américo Amorim ou o senhor Belmiro Azevedo tiverem que "largar" uns milhões para o Estado, será que vão passar fome? Vão ter que vender um carro ou deixar o banco levar-lhes a casa?
Mas se tirarem 200 euros por mês a um trabalhador que já não leva muito para casa ao final do mês, é capaz de fazer uma grande diferença.

E quanto às manifestações...
Façam-me um favor!
Isso não é nada!
Não digo que se recorra à violência, queimar carros é estar a destruir o que o vizinho do lado trabalhou para conseguir e é ridículo. Os senhores do poleiro não sentem na pele se arder o Nissan que um empregado de restaurante demorou 3 anos a pagar!
Mas um dia de paralisação?
Uau! Que impacto!
Experimentem fazer como aqui no Brasil. Bancos parados, correios parados, funcionários da faculdade parados. Mas parados MESMO! Até às suas exigências serem atendidas.

Acredito que o pior pode não ter chegado pois, tal como sucede na Europa, não há solidariedade interna. Os governantes querem que os países mais ricos ajudem os países em dificuldades, mas as suas medidas internas consistem em fazer sofrer os cidadãos que já estão com o cinto apertado. Com que moral é que Passos Coelho reclama com Alemanha e França se ele próprio segue a mesma cartilha?

Não temos políticos competentes da mesma forma que não temos gestores competentes.
Se fossem competentes teríamos uma economia forte. Não temos.
Mas temos gestores pagos principescamente. E temos políticos pagos principescamente assim que acabam funções e vão para empresas privadas, semi-privadas ou públicas.

O que me deixa enojado é a forma como tantos senhores falam de ser necessário estarmos preparados para o aumento de desemprego e para mais esforços quando tantos deles acumulam cargos atrás de cargos em empresas e institutos e fundações e o que mais existir para os deixar de bolsos bem cheios.

Um jovem tem que aguentar meses ou anos à procura de emprego mas estes senhores vão buscar salários a 4, 5, 6 fontes. E são humanos que têm um dia de 24h como qualquer jovem que não pode trabalhar por ser necessário cortar nas despesas e por, como um dia ouvi dizer, a árvore não poder abrigar todos. Não abriga todos, mas há uns passarões que vão de galho em galho, de árvore em árvore e conseguem sempre um bom abrigo.
Se me querem convencer que estes artistas que acumulam funcões em várias empresas conseguem multiplicar as suas horas, muito bem, mas dificilmente me convencem da justiça deste tipo de situações. Uns com tanto, outros sem nada. Não há como pagar 1000€ a um jovem que está em início de carreira, mas os "velhos" podem andar a sugar 4000€ (no mínimo) por estarem presentes numa reunião.

E a mentirinha da redução da máquina do Estado? Eram os ministérios que iam ser reduzidos, afinal foram os ministros, os ministérios continuam lá, com os secretários de estado e acessores e motoristas e tudo o que é necessário para quem está no poleiro.
Querem diminuir a despesa? Que tal começarem por onde realmente se gasta dinheiro? Ou devo dizer que devem começar por onde se deita dinheiro fora?.
É que eu também recebi os emails com os montantes gastos pelas autarquias em flores, músicos, balões, champanhe, etc, mas tal como as autarquias temos o Estado e as grandes empresas a deitar dinheiro fora nestas coisinhas fúteis.

Eu gostava de ver gente competente e corajosa à frente do país, gostava de ver gente inteligente, mas acho que é pedir demais.

Vamos continuar com o país em modo Tomás Taveira: Aguenta e não chora...

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