segunda-feira, março 30, 2009

Cuspir para o ar

Desemprego.
Uma palavra chave associada a um fenómeno muito actual que afecta uma grande parcela da sociedade portuguesa e mundial. E eu, em particular.

Não custa pegar neste tópico e criticar o governo de José Sócrates.
E não se corre o risco de não se ter razão.
A menos que se queira ter piada, ironizar e atacar sem olhar à volta e observar o local de trabalho.

Augusto Madureira, o jornalista que está a trabalhar ao serviço de Conceição Lino no programa Nós Por Cá, conseguiu meter algumas vezes a pata na poça.





1. Há que dizer que, de facto, a iniciativa foi quase insignificante. A ida do primeiro-ministro a uma empresa para oficializar 12 estágios num call-center em data incerta é uma parvoíce, uma perda de tempo. Mas Sócrates não se referia a essa acção como "A Acção" do dia. Como se percebe pelo resto da peça, a acção é uma acção global e a análise de Augusto Madureira - que eu não considero ter vista curta - só pode ser fruto de uma distorção. E um jornalista que distorce uma notícia não está a fazer um bom trabalho.

2. A piadinha dos 40000 estágios profissionais e a decomposição matemática que é feita na peça é uma estupidez incrível! Quer dizer, quando um autarca ou ministro vai lançar a primeira pedra de um edifício, também vamos fazer as contas ao número de tijolos para ver quanto tempo é que o edifício demora a conduzir tendo em conta o que o autarca ou ministro em causa demorou a colocar a pedra??? Pelo amor de Deus!

3. Criticar o primeiro-ministro pelo número de vezes que tem de dizer bom dia é o mesmo que censurar o próprio patrão que tem de cumprimentar o segurança ao passar a cancela de entrada da SIC, depois cumprimenta a senhora da recepção, e ainda tem de cumprimentar todos os jornalistas e outros trabalhadores/funcionários que lhe passam à frente. Uma perda de tempo quando podia já estar a trabalhar se simplesmente ignorasse as pessoas.

4. E porque coloquei no título "cuspir para o ar"?
Uma empresa como a SIC vive de estagiários. Estagiários que trabalham sem receber, de borla, gratuitamente, sem ver um tostão. 
Augusto Madureira deve desconhecer que uma empresa como a SIC, que continua a apresentar têm anualmente dezenas de estagiários. 
E não estamos a falar de estágios profissionais, estamos a falar de estágios curriculares, estágios não remunerados. Estamos a falar de uma rotação de estagiários que permitem à SIC poupar um dinheirão em salários. 
E, se o Augusto Madureira quisesse ser rigororoso, podia falar no facto dos estagiários da SIC não terem sequer direito a subsídio de alimentação ou de deslocações. 
E, mais até, trabalham em horários engraçados, já que o horário da madrugada é assegurado por um pivot e um estagiário e, outros, têm de entrar de madrugada para assegurar o primeiro turno do online ou porque estão na equipa da edição da manhã. Já para não falar quando lhes calha trabalhar em dias como o sábado ou domingo, normalmente chamados de "fim-de-semana".
O Augusto Madureira pode pegar na sua vontade de fazer contas e calcular quanto é que a SIC poupa por ano em estagiários.
Só na redacção a SIC/SIC Notícias "mete" semestralmente cerca de 20 estagiários que não vêm um cêntimo pelo seu trabalho.

Presumo que o Augusto Madureira desconheça que liguem da SIC aos estagiários quando aparece ou há suspeitas de aparecer a Inspecção do Trabalho em Carnaxide para que estes atrasem um pouco a chegada até ordens superiores. Este comportamento mostra o quê?

Não é invulgar ver certas peças do Nós Por Cá darem a volta ao texto para conseguirem uma história mais sensasionalista, afinal, o objectivo do programa é chegar ao povo, mas esta acaba por ser mesmo um tiro no próprio pé,

Se o Eng. Sócrates obrigasse empresas como a SIC a pagar aos estagiários, isso sim, seria um incentivo.

O problema de fazer uma peça sem olhar para o nosso umbigo é o mesmo que se passa quando se cospe para o ar. 



FOI PROFUNDO!

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