Na madrugada de sexta para sábado achei que era um jovem e preparei-me para ver o 5º jogo das finais da NBA. Não sou um jovem. As pálpebras são mais pesadas com o passar dos anos.
Mas, o que realmente custou foi ver/ouvir os comentários da Sport Tv.
Em primeiro lugar, é interessante ver que os comentadores gostam muito de falar na experiência individual na modalidade, mas depois esquecem-se que o basquetebol, como qualquer desporto, implica superação, implica dar o que se tem e o que não se tem.
Michael Jordan usou uma expressão que nunca esqueço: "still have fuel in the tank". Não me lembro exatamente quando foi que ele disse isso, sei que retive. E é isso que acontece. às vezes parece que já não há mais energia, mas os jogadores conseguem descobri um restinho.
Voltando a His Airness, lembram-se do jogo da febre/gripe/intoxicação alimentar?
Pois bem, a conversa de antevisão do jogo 5 foi deprimente. Os dois comentadores praticamente fizeram as malas aos Miami Heat, dobraram a roupa, e já tinham chamado o autocarro para que os Heat fossem para casa. Pobre Jimmy Buttler estava "esticado ao máximo".
Bom, quem gosta de basket deve gostar da capacidade individual de James, Davis ou Buttler, mas não pode deixar de tirar o chapéu a Erik Spoelstra.
James é um carro de assalto. Bola na mão, fura, bola no cesto. Não é nenhuma crítica negativa. Ele tem a capacidade física e a habilidade de concretizar e criar oportunidades de concretização.
Davis recebe e atira de fora, ganha posição dentro, é um mestre da tabelas, ganhando ressaltos e gerando segundas oportunidades.
Mas os Heat criaram um ballet que acabava com a defesa dos Lakers. A forma como as peças se movimentavam e faziam a bola circular deixavam o esquema defensivo da turma de LA totalmente baralhado.
E foi assim que ganharam o jogo. Com isso e com o talento de Buttler. Mas não podemos dizer que Buttler é melhor que LeBron ou que Davis. Não é.
E isso ficou evidente no jogo 6. Quando os Lakers acertaram defensivamente e aproveitaram as suas melhores unidades, foram campeões.
LeBron ganhou o seu 4º anel, em 10 finais. Agora quer respeito.
Mas ele sempre mereceu respeito. É um dos melhores de sempre.
Mas...
E...
Há aqui uma velha discussão de quem é o G.O.A.T. mas é um pouco difícil fazer essa comparação em termos de troféus/anéis.
Se formos para o caso de Kobe, juntou-se Kobe e Shaq e estava criada a receita para o sucesso. Horry (se a disputa pelo título de G.O.A.T. fosse decidida pelo número de anéis, era o campeão certo), Horace Grant, Ron Harper emprestavam um toque de experiência de quem já tinha conquistado o troféu Larry O'Brien. Mas, anos mais tarde, Kobe votou a chegar ao topo, desta vez com a ajuda de... Pau Gasol e uma equipa combativa e talentosa, mas sem outras estrelas. Ah... dirigidos por Phil Jackson.
Agora, olhando para os Bulls, foi um conjunto criado e desenvolvido, draft picks que eram escolhidos para contribuir e para Phil Jackson moldar à sua estratégia. Jordan já estava lá antes de Jackson, Pippen chegou em 87, 2 anos antes de Jackson ter tomado conta da equipa. E havia Horace Grant, que, não sendo uma estrela, foi um pré-Rodman. Os Bulls criaram uma estrela - que já vinha com esse rótulo antes de entrar na NBA - e desenvolveram Pippen para ser o seu sidekick, e nos dois tris tiveram sempre um homem para o trabalho sujo: primeiro Grant, depois Dennis Rodman. Kukoc foi recrutado da Europa e foi trabalhado por Jackson e foi um dos melhores 6º homens que passou pela liga.
LeBron conquistou 2 anéis pelos Heat. LeBron, Dwyane Wade, Chris Bosh. Na verdade, James e Bosh foram as adições aos Heat, para ajudar Wade a ser campeão. E ainda com o bónus do shooter Ray Allen. Depois mais um pelos Cavs. Kyrie Irving e Kevin Love foram os outros elementos do segundo Big Three de LeBron James.
O título dos Lakers conquistado na última madrugada é mais uma prova de que LeBron é um dos melhores de sempre, um jogador dominante, mas que precisa sempre de mais estrelas para atingir o sucesso. Foi assim com os Heat, foi assim com os Cavs, e foi ainda mais gritante com os Lakers. Os LA Lakers refizeram o roster de acordo com os desejos de James, dispensaram/trocaram jovens jogadores que poderiam levar títulos no futuro para garantir um título agora. E juntaram Anthony Davis.
James e Davis são dois jogadores excecionais mas, sozinhos, não ganhariam títulos. Juntos, talvez. E juntando os já-anelados Rajon Rondo, Danny Green, JaVale McGee, JR Smith, e a experiência de um renascido Dwight Howard, assim seria bem mais fácil.
Não foi tão fácil como pensariam, mas o ano ajudou, principalmente com Durant de fora e metade dos Warriors no estaleiro, os Lakers conseguiram o Larry O'Brien.
Se LeBron é o G.O.A.T.? Não.
Como Michael Jordan disse um dia, para considerar um jogador o melhor de sempre seria injusto comprar com outros grandes de outros tempos, em que a NBA funcionava de forma diferente, jogadores que foram marcantes e dominantes na sua era.
Mas, olhando para o percurso de James, Bryant e Jordan, dificilmente se poderá colocar o líder dos Lakers no topo.
A menos que queiram escolher o jogador mais dominante fisicamente de sempre.
Aí, eu voto em Lebron. E mesmo assim ainda é preciso considerar Bill Russell ou Wilt Chamberlain